Será que eu preciso ver o perfil de um ex-namorado 20 vezes ao dia? Preciso estar sempre a par de tudo que está acontecendo nas redes sociais de meus amigos? E será que eu não posso ligar para minha avó…

 

O hábito da internet.

 

Certa vez fui cozinhar algo, não me lembro o que era na época, e senti uma vontade de ligar pra minha avó (sábia e experiente na culinária, claro!) e tirar minha dúvida. Mas aconteceu algo muito automático deste momento: consultei o Google. Muitos vão dizer “é óbvio”, “é mais rápido”, “é melhor”… confesso que foi meu pensamento também. Mas me entristeci e comecei a refletir. Quantos momentos lindos eu deixei de viver por conta deste comportamento automático? Quanta qualidade de interação eu perdi (e continuo perdendo com isso)? E aqueles segredinhos das receitas que só as avós sabem? E aquele jeitinho tão especial e carinhoso de ensinar uma neta? Pois é … perdi todas essas possibilidades no momento em que acionei a busca na internet. Ganhei em técnica, consegui uma boa receita, é verdade, não nego, mas e todo o resto? Até que ponto eu (e você) queremos isso da vida? Será que o caminho mais fácil e prático é sempre o melhor? Será que é possível equilibrar o uso de internet?

Não estou aqui pra criticar em momento algum a importância da internet, mesmo porque não seria coerente, uma vez que também realizo atendimento psicológico por videoconferência (que para muitos pacientes é a única forma de acesso a um psicólogo). Apenas quero sair do automatismo e pensar em algumas questões e convido você a me acompanhar. 

Quem não adora navegar pela internet? Pesquisar, ler, comprar, se relacionar…? Imagino que a grande maioria de nós. O uso de tecnologias digitais tornou-se um habito generalizado, mundial , e, como todo habito, faz parte automaticamente de nossas vidas. 

Um habito se cria quando fazemos repetidas vezes algo e principalmente quando ganhamos algo bom ou reduzimos algo ruim em nossas vidas, ambos podem ser nomeados como recompensas. Quando desenvolvemos um padrão de comportamento deste tipo, nós pensamos e refletimos menos e entramos no “piloto automático”. Qualquer semelhança com o uso da internet não é mera coincidência. Interagir com a rede é incrivelmente prazeroso, encontramos o que queremos no momento em que desejamos, de fácil acessibilidade e aprovado socialmente. 

O fato de sabermos que seremos recompensados pelo uso da internet, que conseguiremos qualquer informação buscada, por exemplo, é o que mantem a repetição deste comportamento. Como o habito é um padrão automático que foi instalado em nossa rotina, acaba por vezes se tornando um caminho alternativo para não pensar sobre alguma coisa que está latente em nós ou até nos esquivarmos de algum sentimento ruim que nos invade. Usamos muitas vezes a navegação na web quando queremos postergar alguma resolução, trabalho e coisas do tipo.

Olhar para si nem sempre é agradável e legal, mas às vezes é necessário … afinal, se faz importante nos conhecermos para sermos mais felizes. Você tem que ter o controle da sua vida, da sua rotina, e isso tudo é possível se praticarmos. Talvez usar menos a internet, ou melhor, usar menos de modo automático e mais quando efetivamente tivermos uma necessidade (real). Será que temos tanta urgência em retornar mensagens? Será que eu preciso ver o perfil de um ex-namorado 20 vezes ao dia? Preciso estar sempre a par de tudo que está acontecendo nas redes sociais de meus amigos? E será que eu não posso ligar para minha avó perguntar sobre uma receita ao invés de digitar na busca do Google (pelo menos de vez em quando)?

 

 

Escrito por Giselle Dechen – Psicóloga em FlorianópolisTerapia Online e Presencial – Agendar Terapia F.48 9 9192 0894 

 

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