Sedução Feminina

Como continuar seduzindo seu parceiro numa relação de longo prazo?

Artigo da Psicóloga Cognitivo Comportamental Giselle Dechen publicado na edição da Revista Psicologia N. 37

“Antônio esqueceu tudo ao ver Cleópatra em meio a esses mágicos arranjos. Ataviada com as vestes soltas e semitransparentes da deusa Vênus, ela estava sentada debaixo de um toldo franjado de ouro, e acolheu Antônio com um sorriso de maliciosa humildade.” ¹

 

A grande rainha do Egito, poderosa Cleópatra, é um símbolo através dos tempos de mulher sedutora. Sua linguagem e expressão corporal caminhavam para o objetivo de conquistar o que quisesse, envolver pessoas e desbravar novos horizontes. Era extremamente vaidosa e luxuosa em seus acessórios, usava muito ouro e pedras preciosas. Cleópatra era uma “mulher de assombrosa versatilidade, sabia discutir pintura, escultura, poesia, teologia, negócios de Estado, filosofia e religião com os homens mais cultos da época. Era brilhante, encantadora, astuta, cruel, afetiva, frívola, diplomática, oportunamente generosa, sobretudo consumida contínua e completamente por uma sede de poder ilimitado. Era apaixonada pela glória e pelos homens. ” ¹
Percebemos que ela tinha muitos atributos considerados interessantes na época (e até hoje), além da inteligência com que conduzia as situações também fazia uso de sua imagem para despertar interesse e fascínio.

 

Mas o que é sedução? Você realmente já pensou sobre isso?

 

O comportamento de seduzir é uma habilidade comportamental em que através de várias atitudes, despertamos o interesse de alguém em nós. É a forma de mostrarmos nossa essência de uma maneira atraente. E também uma forma de mostrar nosso poder e exercê-lo sobre os outros. A sedução é composta por um conjunto de fatores e atitudes.

 

Beleza sedutora

O que vestimos e o modo como nos portamos diante das pessoas e situações dizem muito sobre nossa personalidade. Já ouviu falar naquela expressão que “uma imagem diz mais do que mil palavras”? Então…deste modo nós podemos atrair ou repelir as pessoas. Já pensou nisso?
A mulher é cobrada pela sua beleza e postura sedutora desde tempos remotos, seu corpo é apresentado pela história como parte da sua personalidade e poder. Acreditava-se em algumas culturas que apenas a beleza era capaz de seduzir um homem e levar a um casamento, sem considerar outros atributos como inteligência, por exemplo.
Hoje percebe-se que a beleza movimenta o mercado, ser bela é um conceito que foi se expandindo junto ao capitalismo. Não podemos negar a força do apelo social e cultural da beleza relacionada à sedução. E este ritual de sedução “ inclui artifícios como os cosméticos – cremes, perfumes e maquiagem; os adornos – penteados, jóias, flores, fitas, tatuagens, piercings; os trajes – roupas de baixo, vestidos, saias, blusas, calças; os acessórios – chapéus, bolsas, sapatos, leques, sombrinhas, entre outros. A sedução custa caro, e as mulheres sempre pagaram o preço sem discutir…” ²
Pintar os lábios de vermelho é um ritual de sedução antigo, a intenção era destacar a boca e parece-la mais provocadora. Aliás, a cor vermelha usada de forma geral traz algumas sensações aos olhos (e imaginário) do observador. Através do estudo das cores, percebemos que o vermelho vem como referência à revitalização do corpo (e do cansaço) porque estimula nosso sistema nervoso. Esta cor significa vitalidade, força, paixão, “aquece” nossos sentidos e desperta emoções.
Entre as décadas de 1930 e 1950, tivemos o auge das chamadas pin ups. Elas eram mulheres retratadas em fotografia, cinema, publicidade da época, eram um símbolo de mulher inocente e doce, e ao mesmo tempo, maliciosa e provocante.
O erotismo das imagens se dava pelas vestes, cores, estilo de roupas, postura, olhar, tudo isso bastante erotizado e sedutor. Expressões sensuais e realce do olhar e dos lábios, e é claro, roupas que mostravam boa parte de seus corpos, formavam um conjunto irresistível que parecia despertar no público um delicioso jogo de sedução. Roupas justas e decotadas, partes do corpo a mostra, sorrisos maliciosos, lábios entreabertos (e geralmente pintados com cores fortes), uma composição extremamente sensual instigava o fetiche masculino da época.

Vamos falar de amor?

Não dá para falar de amor romântico sem falar de sedução. Para preservarmos um relacionamento é preciso continuar mantendo o interesse do nosso parceiro em nós.
Lembra daquela fase em que você queria conquistar e seduzir seu amor? Você pensava no que dizer, planejava o que vestir, preocupava-se em presentear (e em acertar!), mostrava interesse pelos assuntos dele…Pois é! E hoje, depois de algum (ou muito) tempo de relacionamento, isso é importante para você? O que você faz cotidianamente para continuar seduzindo a pessoa amada? Como conseguimos manter uma vida longa ( e feliz) juntos?
E aqui, fatalmente, caímos na velha e temerosa rotina do casal. Com o passar do tempo muita gente se preocupa menos em agradar o parceiro com sua imagem, passando a priorizar conforto e comodidade. É mais cômodo não fazer uma maquiagem, usar uma roupa mais sexy ou um salto mais alto, aquela camisa mais elegante, manter um corpo mais desejável.

A ideia aqui não é que você viva e se modele para agradar o outro, não é isso, mas sim que este desejo de seduzir seja resgatado dentro de você com autenticidade. O quanto você se cuida? É preciso termos tempo e dedicação para cuidar de nós também, para nos sentirmos bem, com autoestima elevada e consequentemente sermos mais atraentes para nosso cônjuge.

Perceba que quando você investe em sua imagem, pode ser que apareçam novos elogios, e, isso gera um círculo vicioso em que você quer continuar agindo assim.
A tão falada (e almejada) boa autoestima, tem parte dela na autoimagem, em como você se vê e se percebe, e claro, no retorno social que você recebe.
Realce suas qualidades físicas e sinta-se mais confiante. 

 

Vamos falar de sexo?

Sexo não se resume ao ato sexual, mas também ao erotismo e sensualidade. Tem a ver com muitos fatores que falamos anteriormente, corpo, autoestima, autoconhecimento, satisfação, prazer, saúde, fantasias, pensamentos, amor…num relacionamento de longo prazo, o sexo passa a ser um componente da união. Nossa identidade sexual é fruto de nossa história de vida, experiências positivas e também traumáticas.
Cada casal deve construir sua história sexual que é única. O afeto e as carícias são fundamentais para este vínculo. O contato físico e o carinho fazem nosso corpo liberar substâncias que nos dão prazer e felicidade.
Neurocientistas afirmam que carícias leves e suaves em orelhas e pés, por exemplo, são muito prazerosas para muita gente pois tem relação indireta com zonas erógenas como mamilos e genitais. A ciência também nos traz que quando um casal tem orgasmos, a chance de eles permanecerem unidos e monogâmicos aumenta.
É importante descobrir (ou redescobrir) do que você gosta sexualmente, o que te satisfaz e te deixa à vontade. Mas não use apenas a razão para fazer esta descoberta, sexo e razão não combinam muito, apenas experimente e sinta as sensações e…liberte-se!

 

Para além da imagem

Agora vamos falar de outros atributos importantes para seduzir e manter seu parceiro interessado em você, além da sua imagem e sexualidade.
Nós seres humanos, temos conceitos formados sobre tudo. Estes conceitos foram importantes ao longo de nossa vida para podermos lidar com o mundo, situações, pessoas. O que acontece muitas vezes é que enxergamos um pouquinho “embaçadas” algumas as situações. Vou dar exemplos. Se eu não sou elogiada pelo meu marido, penso que é porque ele não me ama mais. Quando o namorado convida sua amada para ir num evento e esta recusa, ele pensa que ela nunca aceita as sugestões dele, que ela nunca o agrada (apesar de ela aceitar outros convites com frequência e ele estar exagerando sem perceber).
Nós enxergamos o que queremos, ou melhor, o que conseguimos ver, o que aprendemos a ver. Acontece que “a teoria na prática é outra”, as pessoas e situações são diferentes, e nós queremos sempre encaixar o que sabemos dentro de contextos que talvez não caibam. Percebemos apenas alguns detalhes da situação e deixamos de considerar o todo, e isso é um problema e gera conflitos mil numa relação.
Nossos conceitos e verdades sobre o que é um relacionamento e como ele se configura no dia-a-dia aprendemos com nossos pais ou cuidadores, com nossos parceiros amorosos do passado, com regras sociais e culturais. Aí chega a nossa vez de ser um casal. O que acontece? Encontramos uma realidade diferente da que imaginamos para nós (ou que achamos que aconteceria para nós), com pessoas que vem de famílias de configurações diferentes, com outras regras e conceitos. Brigas à vista!
“Cada cabeça, uma sentença”, este ditado popular é muito fiel à realidade. Cada um de nós compreende o amor de um jeito e o expressa de forma particular. Uns gostam de ganhar presentes ou que realizem ações como forma de mostrar seu afeto (limpar a casa, levar para passear, etc), outros, palavras positivas e elogios motivam. Carinho e sexo são formas físicas de demonstrar amor, fundamentais para alguns. A presença de qualidade é exigida por algumas pessoas, ou seja, ter momentos significativos e não somente presença física. O companheirismo pode ser um potente afrodisíaco para muita gente que acha fundamental realizar atividades juntos, compartilhar experiências e dificuldades, superar obstáculos.
Existem muitas outras formas de se sentir e expressar o amor e apreço pelo outro, esta diversidade é benéfica, mas também atrapalha no convívio com as diferenças. Você já fez esta análise? Sabe qual é seu perfil?
Por exemplo, se eu gosto de conversar com meu parceiro e entendo que se ele conversa comigo e me dá atenção, provavelmente vou querer expressar meu amor por ele desta mesma forma. Mas aí pode acontecer um pequeno desentendimento. Ele não acha importante conversar sobre tudo, mas sim receber carinho e ter mais contato físico. O que fazemos? Primeiro você tem que se conhecer e compreender qual a forma que gosta de se relacionar, o que é importante para você, o que você gostaria de receber, entre outras coisas. Em seguida, entenda qual a maneira que seu amor espera que você se relacione com ele. Falem sobre estas diferenças. E o mais importante (e difícil): sejam flexíveis. Estas características diferentes podem se mesclar e os dois podem ser agradados, basta ter respeito, empatia, tolerância e principalmente amor.
Você sabia que quanto mais interesses você tem, mais interessante você se torna? Uma pessoa que tem várias vivencias, faz diversas atividades, pratica seus hobbies, tem mais assuntos para conversar e é uma pessoa mais “recheada” de novidades. O que é novo, diferente, costuma ser mais atrativo, certo? E sedutor por consequência. Invista mais no seu lazer, nas amizades, procure se desenvolver como pessoa, resgate prazeres adormecidos (e deixados de lado por causa da rotina).
Casais devem ter momentos em que fazem atividades sem o outro. Estarem envolvidos em interesses individuais, manter-se em grupos sociais longe um do outro é um modo saudável de seguir uma vida juntas.

 

Comunicação entre o casal

Como você anda se comunicando com seu amor? Tem tido sucesso ou fracasso? Vocês costumam se entender ou não? Se acusam? Se elogiam?
Numa relação, a gente pode se comunicar de forma construtiva ou destrutiva. Destrutiva é quando não somos empáticos, ou seja, quando não conseguimos nos colocar no lugar do outro, somos intolerantes, não consideramos diferentes pontos de vista. Este tipo de comunicação vai deteriorando o relacionamento ao longo dos anos até chegar num momento em que a convivência fica tóxica e aversiva. O autoritarismo e a falta de cooperação destroem uma relação.
Em contrapartida, a comunicação construtiva, obviamente, é oposta à destrutiva. Com ela nós conseguimos expressar nosso ponto de vista sem machucar o outro e com respeito (ponto-chave de uma relação). Objetividade e clareza são pontos essenciais para não deixar dúvida na mensagem a ser transmitida. Tom de voz baixo, equilibrado e sutil geram positividade na conversa. Mas não é só isso. Saber ouvir é fundamental para manter as estruturas de uma relação.
Enquanto conversamos é importante olhar nos olhos, sabia? A neurociência nos diz que quando nosso olhar é correspondido pela pessoa que gostamos, uma área no nosso cérebro é estimulada e sentimos prazer.
A postura de quem escuta deve ser receptiva e muito atenta ao que está sendo dito, mostrar que há interesse. Tolerância e mente aberta também são bem-vindas.
Lembre-se que não tem como resolver problemas do relacionamento individualmente, precisa ser compartilhado de alguma forma, com clareza e objetividade é melhor.
Cuidado para não fazer muitas “DRs” (“discussão do relacionamento”) em momentos impróprios, para muita gente este tipo de conversa em excesso não é lá muito sedutor e agradável.
Saber impor limites ao parceiro também é uma boa habilidade para se desenvolver. É importante separar o que é nosso e o que não é, em termos de sentimentos, necessidades, interesses. A segurança e confiança em nós mesmos nos traz este poder de dizer NÃO quando precisamos e de não sermos “atropelados” pelos desejos dos outros.

Perceba que a sedução vai muito além da imagem. Numa relação de cumplicidade mais sólida, torna-se necessário desenvolver várias habilidades comportamentais e de autoconhecimento.
Uma relação intima nos faz entrar em contato profundo com nós mesmos. Revelamos o melhor e o pior de nós.
Entender que nosso amado é um indivíduo e que ele não está lá exclusivamente para atender às nossas necessidades é fundamental. O verdadeiro amor maduro traz esta consciência em relação ao outro. A vida pessoal do parceiro tem que ser apoiada, valorizada e estimulada a evoluir. Nosso cérebro funciona melhor quando amamos. Nossa saúde mental e física, consequentemente, agradece por serem dominadas pelo amor. Todos nós vivemos e organizamos nossa vida em torno de reconhecimento, valorização, atenção e…amor.

Referências
Herculano-Houzel, Suzana (2003). Sexo, drogas, rock’ n’ roll… & chocolate: o cérebro e os prazeres da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Vieira e Lent.
Rangé, B. (Org.) (2011). Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria – 2. Ed.. Porto Alegre: Artmed.
² Soares, A.C.E.C. e Barros, N.C.F. As propagandas da revista feminina (1914-1936): a invenção do mito da beleza. (2014). Oficina do Historiador, Porto Alegre, EDIPUCRS, v.7, n.1, jan./jun., p. 106-120.
¹ Thomas, H. e Thomas, D.L. (1955). Vidas de Mulheres Célebres. Porto Alegre: Editora Globo.

Giselle Dechen é psicóloga clínica especialista em Terapia Cognitiva e pesquisadora. Atende presencialmente e também na modalidade online. Suas principais áreas de atuação são relacionamentos, ansiedade e emagrecimento. 

Psicóloga Giselle Dechen

Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental

CRP. 12/11788 – Terapia Online ou Presencial

Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental

Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental pela PUC Campinas/SP

MBA em Gestão de Pessoas – Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação de Campinas/SP

Especialista em Programação Neurolinguística – Instituto Actius Campinas/SP

Especialista Psicofarmacologia Clínica – USP – Universidade de São Paulo 

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